Geodiversidade
e biodiversidade sofrem idênticas ameaças. Os recursos naturais, ao contrário
do que se imaginava, são finitos e a ação humana direta ou indireta ainda é a
grande vilã quando o assunto é perda de geodiversidade e de biodiversidade.
Entre essas
atividades, a exploração mineral ameaça a geodiversidade em dois níveis: paisagem,
nos casos de exploração a céu aberto, sem medidas minimizadoras dos impactos
ambientais e a nível de afloramento, quando a atividade extrativa acaba por
consumir objetos geológicos, fósseis e minerais, extinguindo o valor científico
e pedagógico, por exemplo (BRILHA, 2005).
Podemos
listar outras ameaças: a intervenção com o desenvolvimento de obras e
infraestruturas, a disposição de resíduos, a ocupação desordenada,
principalmente nas zonas costeiras, as intervenções com a finalidade de gestão
das bacias hidrográficas, florestação, deflorestação e agricultura, atividades
militares, atividades recreativas e turísticas e colheita de amostras
geológicas para fins não científicos (BRILHA, 2005).
Gray
(2004:134) esclarece que as ameaças à geodiversidade são caracterizadas pelo
resultado de pressões de desenvolvimento e da mudança no uso do solo, e ainda,
de processos ou mudanças induzidas pela atividade humana. Esse impacto gerado
pela atividade humana pode ser resumido com a perda completa de um elemento de
geodiversidade, perda parcial ou dano físico, fragmentação de interesse, perda
de visibilidade, perda do acesso, interrupção de processos naturais e impactos
fora do local, poluição e até mesmo impacto visual.
Ao analisar
os fatores de ameaça a geodiversidade, constatamos que o impacto das atividades
humanas nos corpos hídricos é extenso. A United Kingdom’s Wildlife and
Countryside Act (1981, apud Gray, 2004) listou Operações Potencialmente
Prejudiciais (PDOs), entre as quais se pode identificar a modificação dos cursos
de água. Essas modificações ocasionam impactos locais, como perda de exposição,
atividade e forma de relevo e perturbação dos processos naturais, e impactos
gerais, como mudança no movimento do sedimento e nos processos a jusante, inclusive,
secagem de zonas húmidas (GRAY, 2004: table 4.1, modificada por Gordon &
MacFadyen, 2001).
Dessa maneira,
essas intervenções geraram alterações nas características dos rios, incluindo
rugosidade e hidrodinâmica, alterando o habitat natural de bancos e planícies de
inundações (GRAY,2004).
O Missouri Department
of Natural Resources simulou o que acontece quando o curso de um rio é
desviado e podemos pelo vídeo abaixo verificar que a alteração desse cenário
implica realmente em perda da geodiversidade.
Bibliografia:
BRILHA, J. (2005). Património Geológico e
Geoconservação. Braga: Palimage
GRAY, M. (2004). Geodiversity: valuing
and conserving abiotic nature. Chichester: John Wiley & Sons Ltd.
Natália Gomes, ao ler a sua reflexão sobre as ameaças à geodiversidade e sua conservação, e como essas ameaças são provocadas essencialmente pelo uso e abuso que dela faz o ser humano, direta ou indiretamente (Brilha 2005), não posso deixar, contudo, de refletir no dilema que isso nos traz a todos, pela necessidade que temos de usar para nosso prazer e satisfação essa mesma geodiversidade. Vivo não muito longe do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros mencionado na bibliografia de José Brilha, para a situar fica próximo do santuário de Fátima localizado justamente na serra de Aire, e foi das suas pedreiras que talvez tenham saído as pedras que embelezam o calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, executado por calceteiros portugueses. Como resolver este problema que para além do orgulho que nos dá, a nós portugueses, a beleza das calçadas, representa um valor económico enorme? Foi também por causa da extracção de pedra deste parque que foi possível descobrir um dos mais bem conservados trilhos de pegadas de dinossáurios que possibilitaram a constituição de um Monumento Natural (Brilha 2005).
ResponderExcluirFalou também no impacto negativo da intervenção humana na rede hidrográfica, e nos presenteou com um belo vídeo sobre o tema. Portugal vive hoje um período de seca terrível como não há memória. Como conciliar a geoconservação com um discurso contra a construção das barragens quando toda a sociedade clama pela construção de mais para melhor armazenamento? Estes são desafios enormes com que todos nos confrontamos: o de conciliar a geoconservação com a necessidade do uso do serviço que a geodiversidade nos pode prestar.
Olá João, realmente a sustentabilidade dos recursos é o desafio maior da humanidade no nosso milênio, acredito eu.Quanto ao dilema da gestão das bacias hidrográficas, após a crise hídrica severa que se passou nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro em 2013, algumas medidas estão sendo levadas a cabo, como a tentativa de elaboração de um plano nacional de segurança hídrica. Infelizmente, na nossa realidade, a questão sobre segurança hídrica ainda é incipiente, embora o Plano Nacional de Recursos Hídricos tenha sido aprovado em 2006.
ResponderExcluirNatalia, quanto mais se estuda, mais se percebe a estupidez humana. Em nome de uma pseudomelhoria na qualidade de vida das pessoas o homem se envereda na destruição de seu habitat, o planeta Terra. Brilha deixa bastante claro que uma vez extinto um elemento da geodiversidade, esse jamais retornará, pois, não é renovável. O que vem ocorrendo é que as explorações excessivas hoje praticadas podem levar a vida no planeta a se tornar bem mais complexa, justamente por estar buscando o chamado bem-estar da humanidade. As ações são bastante irresponsáveis na maneira de se tratar com os fósseis para o uso não-científico e como Brilha afirma que às vezes ocorrem Portugal, até mesmo a retirada de amostras por cientistas sem a devida contrapartida posterior.
ResponderExcluirA mudança nos cursos dos rios que segundo seus planejadores para a solução de um tal problema acaba por dar origem há outros vários destacando-se: perdas irreparáveis no ecossistema da região onde se localiza a obra. O que ocorre é que só se aponta nesses casos as vantagens, principalmente as do mundo material, jamais sendo mostrados os graves problemas ambientais causados.
Bibliografia:
Sharples, C., Concepts And Principles of Geoconservation.
Brilha, José, Património Geológico e Geoconservação.
Na tentativa de reduzir os riscos de cheias na baixa da minha cidade natal – Coimbra, e zonas a jusante, foi feita uma intervenção profunda na bacia do Rio Mondego. Foram edificadas diversas estruturas a montante (barragens da Aguieira, Fronha e Raiva) e a jusante (ponte-açude) que afetam, de modo permanente, a geodiversidade da região (Brilha, 2005). Nos invernos de 2000, 2001 e 2016 as cheias voltaram ao baixo Mondego porque o sistema designado por Aproveitamento Hidráulico do Mondego não é suficiente para impedir as consequências das cheias (está construído de forma a suportar 1200 metros cúbicos/segundo). Também foram construídas duas novas pontes no rio nos últimos quinze anos (a ponte pedonal Pedro e Inês e a Ponte Rainha Santa Isabel) que contribuíram para a subida do seu caudal. Além disso fatores como “os incêndios florestais, a impermeabilidade dos solos causada pela construção de edifícios e estradas” ajudam a que, “em picos de precipitação”, a subida do nível das águas seja mais intensa.
ResponderExcluirPara resolver este problema é necessário proceder ao
desassoreamento do rio Mondego, ter um sistema de alerta mais eficiente e subir a quota.
Mais obras (mais perda de geodiversidade) serão feitas, agora para desassorear....
Cumprimentos
Ana Marta
Cara Natália,
ResponderExcluira ação humana intervém claramente no regime hídrico, com grandes impactos ao nível da paisagem e da dinâmica fluvial, nomeadamente através da captação de água para diversos usos ou da impermeabilização dos solos, por via de construções sobre as linhas de água, o que constitui uma obstrução ao seu escoamento, ou mesmo desviando o curso normal dos rios, como é o caso que referiu. Por outro lado, a destruição da cobertura vegetal, através de incêndios ou de atividades económicas associadas, por exemplo, à agricultura, contribuem para aumentar o escoamento superficial e a quantidade de materiais arrastados pela água. Por via destas alterações, o ser humano vai interferindo na dinâmica própria de certos processos naturais, podendo daí resultar efeitos catastróficos como as cheias ou as inundações.
A correta gestão dos recursos hídricos é assim indispensável para que a sua utilização se possa fazer de forma responsável e sustentável, estabelecendo um expectável equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental. Deste modo, deve existir uma avaliação criteriosa dos impactos positivos e negativos resultantes de eventuais modificações, assegurando um planeamento cuidadoso, que permita o conhecimento dos recursos existentes, garantindo o seu melhor aproveitamento e a sua proteção.
Cumprimentos,
Sandra Duarte